terça-feira, 9 de novembro de 2010

Uma vida sem vida ( I )

Muitas pessoas vêem o sol como um símbolo de esperança, um símbolo de vida, uma benção.
Eu, por outro lado, desisti de acreditar na benção do sol.
Vivo, a todo tempo, na escuridão, mesmo que os raios de luz iluminem ao meu redor.
Vivo, dia após dia, a mesma depressiva e monótona rotina, os mesmos dilemas.


São oito e 30 da manhã. Ao acordar, fico admirando o mesmo teto cinza de sempre, vendo meu reflexo nele.
Entre esse espaço de tempo até as dez, reflito, argumento comigo mesmo e chego sempre as mesmas perguntas: O que é a felicidade? O que é um bom dia? O que é essa vida? Qual o sentido de viver assim?
Então paro de tentar imaginar, pois sei que resultaria numa piora significativa do dia ruim por vir.

Batem dez horas da manhã. Saio do meu quarto, vou até o banheiro. Viro um zumbi. Não aguento olhar o mundo à minha volta, os passarinhos cantando me irritam, as crianças brincando lá fora, o entra e sai de pessoas na casa. Volto ao quarto.

As onze da manhã, bate a sede. Dirijo-me a cozinha, ao lado da sala, onde estão várias pessoas. Fico alí, em corpo. Mas minha mente está sozinha, num universo paralelo, dentro de uma caixa fechada. Vejo, dentro das quatro paredes desta caixa, todas as tristezas passadas e toda uma ambição inutilmente perseguida. Vejo a falta de motivação, a carência, a alma morta dentro de mim. As pessoas já não me notam, e duas horas passam voando à minha frente.

Treze horas, hora de almoço. Sento-me à mesa, na mesma cadeira de sempre. Pego um prato, coloco a comida. Como de costume, há um agradecimento pelo almoço. Observo, em olhar fixo, o alimento. Imagino o por quê da comida, o por quê do agradecimento, o por quê de comer. Em reflexos condicionados, meu braço e mandíbula se movem, ingerindo o alimento sem perceber. Levo meu prato à pia e, sem falar uma palavra, me retiro. Volto ao meu quarto.

Já são quatorze horas. Meu computador ligado me entretém com diversos jogos, que me tiram do poço sem fundo e me fazer imaginar uma realidade mais feliz, mesmo que surreal. Isso dura até as 21 horas.

Quando escuto o bipe do relógio informando sobre as 21 horas, uso um período de atividades que tem rotatividade entre filmes e desenhos, livros e escritura. Entro em contato com o mundo, ou quase isso, através do mundo virtual.

Quando batem quatro da manhã, apago as luzes e desligo os aparelhos. Fecho as persianas, ligo o ar condicionado no mais gelado possível. Deito-me na cama, torno a olhar para o teto cinza, triste e sem expressão e me vejo ali. Caio no sono por volta das cinco e meia.


Esse sol que morre toda a noite e renasce todas as manhãs não ajuda em nada. Passo os dias esperando o sono eterno. Ou quem sabe alguém que me tire dessa rotina viciosa..